AMPULHETA
Às vezes me sinto como a inércia da caneta,
esperando a nova rima
pra voltar a trabalhar...
Às vezes me sinto a areia da ampulheta,
que mesmo quando posta pra cima,
não consegue lá ficar.
E assim vou despencando,
grão por grão,
e vejo grãos se transformando
num morrinho de ilusão.
Ilusão com minha vida,
ilusão com desamores,
e minha alma entristecida
vai caindo em dissabores.
Num espaço apertadinho,
vão passando desventuras,
e quem recebe meus grãozinhos
é o chão frio da amargura.
E lá eu vou me acomodando,
são pedaços do meu ser,
que grão a grão vão se aglomerando,
só aumentando o meu sofrer.
E lá eu fico a esperar por alguém,
alguém que possa me salvar,
e que da ampulheta do ninguém
possa vir me libertar.
Camilla Faria