AMPULHETA

Às vezes me sinto como a inércia da caneta,

esperando a nova rima

pra voltar a trabalhar...

Às vezes me sinto a areia da ampulheta,

que mesmo quando posta pra cima,

não consegue lá ficar.

E assim vou despencando,

grão por grão,

e vejo grãos se transformando

num morrinho de ilusão.

Ilusão com minha vida,

ilusão com desamores,

e minha alma entristecida

vai caindo em dissabores.

Num espaço apertadinho,

vão passando desventuras,

e quem recebe meus grãozinhos

é o chão frio da amargura.

E lá eu vou me acomodando,

são pedaços do meu ser,

que grão a grão vão se aglomerando,

só aumentando o meu sofrer.

E lá eu fico a esperar por alguém,

alguém que possa me salvar,

e que da ampulheta do ninguém

possa vir me libertar.

Camilla Faria

Milloca Faria
Enviado por Milloca Faria em 31/07/2008
Código do texto: T1106911
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