Roda Viva

De manhã

o espelho refletiu surpresa,

não encontrei meus olhos de menino.

O destino os havia levado.

Calei meu espanto

e me tranquei no quarto.

Não encontrei meus sonhos no escuro,

o futuro já os havia apagado.

Assumi minha maturidade

e procurei manter-me em silêncio.

Tentei em vão encontrar alegria

mas, já era tarde,

a idade não permitia.

À tarde

o espelho refletiu o meu rosto

só encontrei em meus olhos desgosto,

a velhice já havia chegado.

Calei meu espanto

e me tranquei na memória.

Não encontrei meus sonhos

mas achei a calma e tornei-me forte,

a morte viera buscar-me

para a última volta da roda-viva.

Mauro Gouvêa

Rio de Janeiro, 1º de agosto de 1983

poema pretensioso e baixo astral escrito há 22 anos atrás, com meus 18 aninhos.