Conto triste de um coração sem dono

Era uma vez um coração aflito

Que numa noite esqueceu seu fascínio

E foi abandonado sem triste grito

Em campo dourado, num frio escrínio

Escudeiro da esperança, ele muito tinha amado

Agora sozinho, espera seu fardo

parceiro da noite, um cúmplice amigo

conselheiro cordato, ouvinte querido

Companheiro ele foi

das infames agonias

colhendo mágoas partidas

contando as almas perdidas

Nas noites doídas ele era o abrigo

e ouvia excelso teu pranto sofrido

Secava a lágrima do rosto afogueado

enquanto retiravas da vida o extrato

Em seus dias mais aflitos, teu coração

em silencio a noite te serenava

sem um gemido dormias tranquilo

e nem notava o pobre sofrido

Ermitão da paz, leão magnanimo

Juiz da saudade, escravo do animo

níveo executor, exímio ancião

Não existem palavras que definam coração

Por que hoje duvidas, sublime oração

se ele foi de sua vida a orquestra

se te estendeu, sem vaidade, a mão

e te guiou com sábia chave mestra?

Pálida voz de acalanto

hoje o coração foi expulso do corpo

e foge, vazio, com toda coragem

deixando em um peito somente a miragem

Porém no supremo dia da Elevação

quando juntos um só hino cantaremos

encontrarás o paladino imortalizado

que um dia habitou em ti, adorado

Assim, no clímax da Eternidade

Quando, finalmente nos céus pernoitares

Dirás, ferido, ao guardião dos ares:

“Perecerei pela minha maldade?

Ao meu coração tolhi a verdade”

O coração com frieza responderá

“Não perjuro, peregrino andante

Foste terrível, pérfido amante

Mas sou pérola do peito saudoso

que volta arrependido, e sorri amoroso

No Paraíso serás abençoado

Amado solista, estás perdoado…”

Ana Cristina Cattete Quevedo
Enviado por Ana Cristina Cattete Quevedo em 14/09/2008
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