Conto triste de um coração sem dono
Era uma vez um coração aflito
Que numa noite esqueceu seu fascínio
E foi abandonado sem triste grito
Em campo dourado, num frio escrínio
Escudeiro da esperança, ele muito tinha amado
Agora sozinho, espera seu fardo
parceiro da noite, um cúmplice amigo
conselheiro cordato, ouvinte querido
Companheiro ele foi
das infames agonias
colhendo mágoas partidas
contando as almas perdidas
Nas noites doídas ele era o abrigo
e ouvia excelso teu pranto sofrido
Secava a lágrima do rosto afogueado
enquanto retiravas da vida o extrato
Em seus dias mais aflitos, teu coração
em silencio a noite te serenava
sem um gemido dormias tranquilo
e nem notava o pobre sofrido
Ermitão da paz, leão magnanimo
Juiz da saudade, escravo do animo
níveo executor, exímio ancião
Não existem palavras que definam coração
Por que hoje duvidas, sublime oração
se ele foi de sua vida a orquestra
se te estendeu, sem vaidade, a mão
e te guiou com sábia chave mestra?
Pálida voz de acalanto
hoje o coração foi expulso do corpo
e foge, vazio, com toda coragem
deixando em um peito somente a miragem
Porém no supremo dia da Elevação
quando juntos um só hino cantaremos
encontrarás o paladino imortalizado
que um dia habitou em ti, adorado
Assim, no clímax da Eternidade
Quando, finalmente nos céus pernoitares
Dirás, ferido, ao guardião dos ares:
“Perecerei pela minha maldade?
Ao meu coração tolhi a verdade”
O coração com frieza responderá
“Não perjuro, peregrino andante
Foste terrível, pérfido amante
Mas sou pérola do peito saudoso
que volta arrependido, e sorri amoroso
No Paraíso serás abençoado
Amado solista, estás perdoado…”