restos

Quero a urgência dos amantes suicidas

Quero o destempero dos desesperados,

dos atônitos

Quero olhos, bocas, pernas e suor

Irrigando os lençóis abandonados

na noite escura

Implorando por vida

quero o beijo mais evasivo

que me penetre

e, me confunda

e depois de todas as juras

quero a traição banal

na esquina

sem pudores falsos de castidade

quero a última taça da ceia

e ,o sal derramado na mesa

os desperdícios matinais

a pingar gotas e restos por

toda a vida

A vida é de restos...

Vivemos os restos de nossos dias,

Vivemos os restos de nossas forças

Vivemos de restos de imagens e

emoções

carregadas num corpo que nos

resta depois de

apenas sobreviver

quero o resto de sua juventude

quero seu sorriso irônico

e certeiro

a flechar meus brios

de pequena burguesia,

de pretensa dama antiga

agarrada em rendas e anáguas

inúteis...

tecidos a tramar imagem

poluída pelo tempo.

quero o resto de seu corpo

embalsamado nesse momento

que será irrepetível

que nunca volverá

a acontecer, nem perante suas

retinas

e, nem perante as reticentes primaveras

a espalhar polens contaminados

de lirismo

a nos dar flores para túmulos,

para igrejas,

para as moças,

para os românticos

,e para as crianças que principiam

a cerzir

restos de umbrais...

a poesia é resto

sem quociente,

sem multiplicação,

sem divisão

é resto aritmético de toda a humanidade

contida e concentrada

numa inspiração.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 04/10/2008
Código do texto: T1211784
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