Não concebível

Antes de concebido, foste desejado

Depois de alojado, foste rejeitado

Sem saber como te chamar

Dirijo-me a ti, cadáver meu,

Que eu fiz partir

Não escutei teu choro

Mas eu vi tuas lágrimas

Como um rio de sangue

Escoarem numa só direção

Servindo-te de agasalho

Para o já em frangalho

Pedaço de carne inerte

Que teu ser se tornara

Não te vi crescer

Mas teu franzino corpo eu senti

Contorcer-se, resistindo,

Numa luta desigual

Para continuar no direito

De vir ao mundo

De forma normal

Nada te ensinei além da dor

E da falta de amor

Que a ti pude demonstrar

Nada te disse além do silêncio

De vergonha e remorso

Que meu ser faz questão de guardar

Como uma melodia fúnebre

Que me embala na solidão

Lembrando-me do que fizera

E dentro de mim nada mais gera

A não ser a morte e destruição...

Suspiro
Enviado por Suspiro em 12/10/2008
Reeditado em 12/10/2008
Código do texto: T1223996
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