Não concebível
Antes de concebido, foste desejado
Depois de alojado, foste rejeitado
Sem saber como te chamar
Dirijo-me a ti, cadáver meu,
Que eu fiz partir
Não escutei teu choro
Mas eu vi tuas lágrimas
Como um rio de sangue
Escoarem numa só direção
Servindo-te de agasalho
Para o já em frangalho
Pedaço de carne inerte
Que teu ser se tornara
Não te vi crescer
Mas teu franzino corpo eu senti
Contorcer-se, resistindo,
Numa luta desigual
Para continuar no direito
De vir ao mundo
De forma normal
Nada te ensinei além da dor
E da falta de amor
Que a ti pude demonstrar
Nada te disse além do silêncio
De vergonha e remorso
Que meu ser faz questão de guardar
Como uma melodia fúnebre
Que me embala na solidão
Lembrando-me do que fizera
E dentro de mim nada mais gera
A não ser a morte e destruição...