CIDADE DE PAPELÃO

Estátuas, cheias de verdete, invadem

as esquinas de meus olhos e as rosas,

que morrem cerces, por entre jardins

descuidados, ardendo instantaneamente.

Abundam os arbustos e árvores mortas,

petrificadas pelo tempo, e, a poluição,

desce as escadas da cidade, na humidade,

corrompendo o papelão e a inanição diária.

Meu pássaro de papel, argonauta de meus

sonhos, ficou-se a meio do caminho, entre

pinheiros bêbados de azul, rios putrefactos,

onde descem impunes, águas de esgoto.

Sem sonho algum, que lhes alimente a face,

é aí, que vivem as pessoas, que subsistem,

a toda a ignominia, debaixo de velhas pontes,

a meio da sujidade, no alastrar das doenças.

Algumas pombas vão depenicando o chão,

e, há uma certa normalidade, nisto tudo,

menos as ratazanas, que roem os pés das

pessoas, desprevenidas, enquanto dormem.

E prédios crescem, ao lado, indiferentes ao

que se passa ao seu redor. Já lá vai o tempo

da alvenaria, pois tudo é de cimento armado,

ilustrado por imensas janelas, sem brio algum.

Virilhas esverdeadas, erupções cutâneas e

outras enfermidades, marcam o compasso

da cidade assimétrica, e, rostos amarelos,

morrem todas as noites, ao piar da coruja.

Regresso ao mar, minha origem, e, é então,

que me transmuto, qual cavalo ou galgo,

em ondas, onde abunda a liberdade, e, aí,

sou de novo a pureza das coisas, sua verdade.

Açoitado pelo vento, faço-me espuma e areia,

e, solto meus cabelos, que vagam ao sabor do

mar, misturando-se com as abundantes algas,

salpicando todos quantos se acercam de mim.

Jorge Humberto

27/10/08

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 28/10/2008
Código do texto: T1252776
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