Meu amigo não apareceu nas notícias de jornal
Meu amigo não apareceu nas notícias de jornal
Por que escrever a respeito de sua morte?
Mais uma morte no meio de tantas outras
Nessa cidade louca, transfigurada...
As pessoas andaram
Os carros circularam
Até eleições aconteceram
A vida não parou por causa de sua morte
Por mais que a dor, nossa dor, fosse tanta...
Talvez para os jornais não importasse que ele chamasse Carlos,
Que tivesse uma esposa, dois filhos,
Que fosse marido exemplar, pai exemplar
Funcionário público e exemplar (porque isso não é equivalente)
Homem de espírito, coração dedicado
Não importasse o vazio que sobrou
Vazio da sua presença
Vazio do carinho dado a sua esposa
Da atenção dada aos seus filhos
Do oco que ficou em nossos sangrados corações
Talvez quisessem saber apenas que ele morreu a tiros
Por razão desconhecida
Sabida apenas pelo autor dos disparos
E do seu mandante
E o mistério que isso pode despertar
Carlos, vá em paz,
Sabemos que está na presença de alguém maior do que nós mesmos
Que está feliz, em outras companhias
A nós, só nos resta realizar o luto
De uma saudade inerte