A MORRER
(Republicação)
 
Transformo-me em poeta para falar da morte
E a ela entrego com doçura os sonhos e a sorte!
Se na vida encontrei os padecimentos e o desgosto
Redima-me a alma das feridas do sentir exposto!
 
Senhora! Liberta-me das torturas do entendimento
Sou escrava destinada à subserviência e ao fingimento!
Familiariza-me com a sensação de superar o desafio
Temo ser pássaro a jamais ultrapassar as barreiras do ninho!
 
Deixa-me descansar à tua sombra, rompendo, a rigidez
Revelando sem cobrança de decência a dor e a desfaçatez!
Fortalece-me na coragem de abdicar da cômoda indecisão
Orvalhando com gotículas de esperança a fria divagação!
 
E se inútil, opressiva e entediante for a longa espera
Sejam as lágrimas testemunhas do verão em plena primavera!
E assim, reverenciarei a ti com pujante ardor e cumplicidade
Por ensinar-me a valorizar o momento despida de vaidade!