sem volta

Não posso ter

Escapou-me o grão de areia ínfimo

Escapou a luva da mão

Escapou-me a dor recolhida no peito

Nessa lágrima agora há um poço

a sorver toda esperança

de amor e de desamor.

De encontros e infortúnios.

Há nessa lágrima a salinidade bastarda

E cruel dos mares revoltos e misteriosos

Há nessa lágrima um adoçar das emoções

eruptas e o cuspir para o mundo

as semânticas rasas e clarividentes

agora mesmo,

espero a última gota

a percorrer todo meu rosto,

a cobrir as curvas da expressão

e desaguar finalmente na boca

silenciada de dor e compaixão

não posso agora

ter o grão de mostarda,

o jatobá da infância,

e, nem

a família com que sonhei

não tenho agora

as senhas para desvendar segredos

ou os remédios para os males

reticentes

que encharcam o brejo sem almas...

não tenho agora

a amizade de um cão,

a porta entreaberta

ou

a passagem secreta para o paraíso.

Resta-me o chão,

resta-me a lama

fétida e tépida.

O grito silenciado na voz.

O aceno de adeus

num cenário de desconstrução.

A partida de uma viagem

sem volta.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 19/11/2008
Código do texto: T1291667
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