O HOMEM VÃO

O HOMEM VÃO

Queria capturar, ainda que por um átimo,

A luz cuja têmpera emana de uma águia entregue ao gozo do vôo.

Sim, assim eu poderia abjurar aos meus escrúpulos

Para seguir o rastro do orvalho á minha frente.

E

Não ter de ponderar sobre o efeito das conseqüências duma opção

Que escolhi

E

Não ter de encarar diariamente o semblante das boas escolhas

Que não fiz

E

Não ter de procurar relevo na latitude do degenerante vácuo

Que jaz cimentado no chão de mim.

Sim, eu queria que, ao ser levado pelo galope do orvalho,

Quando chegássemos a seu destino ocioso,

Eu pudesse encontrar o púlpito, as asas do Pégasus, o nobre

Enlevo.

É, mas acontece que eu não sou a águia;

Não capturo a sua luz:

Na verdade, eu sou um vaga-lume opaco

Que não consegue sobrevoar o dardejante mar etéreo de estrelas.

Por isso sou o mais soez dos pós, o látego de mim, o que há de Mais

Nulo

Em si mesmo.

Queria capturar, ainda que por um átimo,

A luz cuja têmpera emana de uma águia entregue ao gozo do vôo.

Sim, assim eu poderia abjurar aos meus escrúpulos

Para seguir o rastro do orvalho á minha frente.

Mas não, as minhas mãos são asas que voam sobre o desgostoso

Céu da sofreguidão. Sofreguidão que lacera mais do que navalha

Quando expõe o cabal estigma das feridas:

Sim, eu falo das vísceras do verdadeiro elixir da vida.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

JESSÉ BARBOSA
Enviado por JESSÉ BARBOSA em 04/12/2008
Código do texto: T1318136
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