Suplicante de Claudel

De tanto doar-me flamejante

Agora eis-me rastejante

Joelhos arranham os chãos

Estendidas as imensas mãos

Em bronze forjado a cinzel

No implorar sofrido dos gestos

Olhares animados de restos

Suplicantes de Camille Claudel

E tão pouco me é preciso

Um afago de bicho, um sorriso

Um bolero marcado de Ravel

Uma sonata velada em doçura

Qualquer sopro de real ternura

Ou uma cena insofismável de Buñel

O toque branco de um Anjo

Lançado das tintas de Raphael

Uma palavra sem fala, um poema

Ou quem sabe uma rima de cordel

Sigo assim em mendicância

Ré egressa do auto-dilema

Mas confesso precisar tanto...

Da vibração em consonância

Do Universo à última instância

Que salga em abundante saliva

A boca submersa na textura do mel

Do vislumbre inexato da relevância

Desse átimo atônito chamado vida

Que da matéria -alma!- de mim aboli

Mas afinal..

Em que ária sutil em ressonância

Na dor maior me perdi

Do compasso incoercível dessa dança ?

Claudia Gadini

03.04.06