Sua majestade, o Urubu

No dia em que eu morrer espero subir

Esperarei por Deus

Agradecerei

Palpitarei, é claro

Mas principalmente vou pedir

Quero cumprir todas as etapas que minha cultura me ensinou

Depois de morrer vou nascer de novo

E quero nascer um bicho

Se nesse mundo de bicho humano eu voltar

Quero nascer um urubu, daqueles majestosos

Um urubu dentre os humanos

Nobre, independente, autossuficiente

Se num mundo de humanos eu voltar comida é o que não me faltará

Pois ora, se urubu eu for, carniça adorarei!

Se num mundo de humanos eu voltar serei livre

Pois gaiola para mim não existirá

Se num mundo de humanos onívoros eu voltar

Definitivamente no topo da cadeia alimentar hei de ficar

Até lá o filé de peito de urubu grelhado não será iguaria

Se num mundo de humanos eu voltar eu serei sozinho dentre os meus

E ninguém irá me domesticar

Se num mundo de humanos eu voltar

Quem disse que irei chorar?

Serei um urubu, sozinho e não necessitarei de amor

Nem de afeto

Não terei dono

Não passarei fome

Terei tudo!

Serei rei!

Se num mundo de humanos eu voltar

Definitivamente alcançarei o topo mais elevado da evolução

Me aproveitarei da morte, da putrefação

E acredite, não gosto de Augusto dos Anjos

Nem terei morte precoce

Apenas queria ser um urubu dentre os homens

E rir lá de cima com toda superioridade

E tocar minha vida, sustendando-me da morte.

Mariane Dalcin
Enviado por Mariane Dalcin em 10/01/2009
Reeditado em 22/10/2011
Código do texto: T1376799