Sua majestade, o Urubu
No dia em que eu morrer espero subir
Esperarei por Deus
Agradecerei
Palpitarei, é claro
Mas principalmente vou pedir
Quero cumprir todas as etapas que minha cultura me ensinou
Depois de morrer vou nascer de novo
E quero nascer um bicho
Se nesse mundo de bicho humano eu voltar
Quero nascer um urubu, daqueles majestosos
Um urubu dentre os humanos
Nobre, independente, autossuficiente
Se num mundo de humanos eu voltar comida é o que não me faltará
Pois ora, se urubu eu for, carniça adorarei!
Se num mundo de humanos eu voltar serei livre
Pois gaiola para mim não existirá
Se num mundo de humanos onívoros eu voltar
Definitivamente no topo da cadeia alimentar hei de ficar
Até lá o filé de peito de urubu grelhado não será iguaria
Se num mundo de humanos eu voltar eu serei sozinho dentre os meus
E ninguém irá me domesticar
Se num mundo de humanos eu voltar
Quem disse que irei chorar?
Serei um urubu, sozinho e não necessitarei de amor
Nem de afeto
Não terei dono
Não passarei fome
Terei tudo!
Serei rei!
Se num mundo de humanos eu voltar
Definitivamente alcançarei o topo mais elevado da evolução
Me aproveitarei da morte, da putrefação
E acredite, não gosto de Augusto dos Anjos
Nem terei morte precoce
Apenas queria ser um urubu dentre os homens
E rir lá de cima com toda superioridade
E tocar minha vida, sustendando-me da morte.