CÁLICE TRANSBORDANTE
Quisera eu tomar em minhas frágeis mãos
O cálice que tanto embriaga... tanto mata.
Esparramar sem medo garganta abaixo...
Todos os sentimentos que me devoram pouco a pouco.
Deixar-me embalar pelos gritos interiores
Que me convidam a uma viagem sem fim...
Repousar as minhas desilusões, os desalentos, o desamor
Inda que reste apenas uma gota, tomá-la toda.
Os sonhos que se vão no cálice que transborda a dor
Pigmentados por cores... e sabores tão conhecidos meus.
Ah! Alma minha! Que caminha sem direção
Dá-me de volta o que é meu.
Devolva-me a alegria e a poesia de viver, apenas isso!
As noites insones são como um sino que badala nos funerais
Lembram-me de momentos, projetos e desejos que se foram.
O cansaço... da vida... perdida que voluteia
Mas os pensamentos que me rodeiam... e semeiam a dor
São os mesmos que me incendeiam de amor.
Antagônicos... loucos... desvairados
Ah! Fera ferida! Acuada, desamada!
Seja como for não te acovardes diante da dor
Amores lançados ao vento não acalentam.
Seja como for não permitas que a dor
Oferte o cálice que cala... que mata.
Tome em tuas mãos, inda que em vão
A semente que germina... caminha
Inda sem direção... deixe-se quebrar
Remende-se! Junte os pedaços! Os cacos!
E erga o cálice que embriaga... enobrece
Brinde à vida! À vitória de um novo dia que amanhece.