Miséria do ser (Imago est retro)
Arrastando os pés
Pela escura viela
Deparei-me com atroz revés:
O Espectro, que trouxe-me à goela
O vômito há muito guardado,
E os lancinantes espasmos de outrora.
Vergou ao chão este servo malfadado,
Pois quando o encara, chora.
Ao meu redor reuniu vultos,
Sombras, bestas e chacais.
Insurreto, trouxe à boca insultos,
Lutei para afastar os carniçais,
Do abismo dos vermes malfazejos...
A atonia, então, revelou-se em mim
Como se o “imago” respondesse aos meus desejos:
“Acalma-te, sabes que é iminente o tão sonhado fim...”
E, em meio às agruras da inóspita terra,
Iniciou-se o processo lento
Do desprendimento da alma, que, agora, se encerra,
Dando vida a mais um tormento:
Em ambas chamas que aprisionam,
Quem há de saber
Que o amor e o ódio tencionam
A exposição da miséria do ser?