Perfil da seca

Pela estrada poeirenta

Pés descalços, andar vacilante

Abraçada ao pote na cintura

Abraço do amor ausente...

Pés errantes chutando terra

Lá vai ela buscar a fonte

A terra quebrada ao redor do poço

O coração aperta

Ao quebrar os cacos do que foi lama

Em derredor a natureza ingrata

Tudo está seco...

Nas poucas árvores ainda em pé

Troncos mirrados de folhas

Não há bichos

Não há plantas

Não há gente

Tudo se foi...

A sertaneja avança...

Passos miúdos, apertados

Como o próprio coração

Teme chegar ao poço

Receia encontrá-lo seco

Como sua pobre vida

Seus olhos

Sua boca

Sua pele

Seu ventre

Tudo seco...

Agora, até o poço...