Nada

É como se não tivesse que fazer

Mais nada, nada a dizer

Me parece que nada vai acontecer

E na verdade acabo de me esquecer

A última que aconteceu.

Sensação chata, irritante

De que nada mais é apaixonante

De que sou um nada agonizante

Que do mundo sou coadjuvante

Nada tenho a fazer.

E na verdade, sou mais um

Entre milhões de “mais um”

Que não tem lugar algum

Que nada tem de incomum

Despercebido, inútil.

E quem é que não tem vontade

De sumir, só por vaidade

Só pra ver se a saudade

Pelo menos alguém invade

E se sentirão sua falta.

E se isso demora

Ou se vem na hora

Acho que vou embora

E só se alguém me implora

É que vou voltar.

E se ninguém pedir

Acho que vou sentir

A solidão ferir

E me arrepender de ir

Porque foi tudo em vão.

E a dúvida permanece

E o estado permanece

Acho que não consigo decidir nada.

(Rio, 2007)