Amargura

Diz-me então, vês algo de tenebroso em mim?

Se de minha alegria os sonhos desistiram,

Entristecida vida que desfaço na poeira,

Ainda dirás que saudades por mim resistirão.

E o vicio que parecia um devaneio,

Oceano donde vinha uma gota triste

Que ia além, e corria livre pelo peito,

No vendaval que levou o amor que tive,

Partiu numa enchente de flores flutuantes,

Seguiu uma estranha ave, uma Águia como fada

Que pousou nos ombros, eterna e distante...

Há dor enquanto minh’alma chora.

Perdeu-se a prudência do meu espírito

Nesse infindo sentimento, de solitário pranto,

De Musa que morre de delírio

Quando da boca sai o último canto.

No céu, vê-se um anjo dormindo

Em alta nuvem, sem qualquer luar,

Tão belo, e tão frio o seu sorriso

Que encanta, mas também faz chorar!

Diz-me então, o sentimento se esvai

Com dizeres feito as nuvens frias,

Fizeste das trevas meu funeral.

Pena, levaste então os meus dias!

Fala... Vês algo de tenebroso em mim?

Se de minha alegria os sonhos desistiram,

Entristecida vida que desfaço na poeira,

Ainda assim meus olhos te seguiriam.

E no vicio que parecia um devaneio,

Oceano donde vinha uma gota triste

Que ia além, e corria livre pelo peito,

No vendaval que levou o sentimento que tive,

Perdeu-se a prudência de meu espírito

Nesse infindo sentimento de solitário pranto;

Dê música ao meu peito! Que morre de delírio

Quando na boca secou o meu último canto.

No céu, vejo um anjo dormindo

Em alta nuvem, sem qualquer luar

Tão belo,mas frio o seu sorriso

Que encanta, e me faz chorar...

(Mérci Benício Louro).