MÃE - 112
a Tragédia
veio impetuosa,
irascível,
bruta e veloz.
mas silenciosamente...
como uma predadora:
sem nome,
rosto ou voz.
sem aviso.
violenta
e devastadora.
sem cometer erros
e decidida,
aliou-se
á Incompetência,
á Negligência,
ao Destino
e ao Desprezo pela Vida.
mas não impediu
que pela última vez
eu recebesse o beijo;
escutasse uma palavra;
visse os olhos abertos...
Maldita seja você
Tragédia Desconhecida!
que me tirou de perto
de quem me deu Vida
e me deixou Liberto
para que hoje eu possa
te amaldiçoar
enquanto
outra boca deve calar.
é certo
que não escutarei jamais
"Marisa";
"Lauda";
"Date";
"Jurinho";
e que não a verei
exercitando a assinatura
nem à máquina de costura.
é certo
que o bebê não se lembrará
da mamadeira dada
com veemência;
dos presentes ou do colo...
mas também é certo
que se antes
quando olhava para trás
eu via quatro pegadas,
agora vejo duas
mais pesadas no solo.
e por isso,
se pensas Tragédia,
que me tornarei infeliz
para que triunfe o seu Mal
e se percam duas vidas assim,
não. não.
engana-se.
serei feliz.
infelizmente feliz...
mas serei.
por que certamente
- não o sabes -
que sendo eu feliz aqui,
ela, de quem não conhecias
nem o nome,
também será feliz.
ela, que tinha
rosto,
endereço
e olhos azuis
que você jamais verá.
e tinha filho
e muitos que a amavam.
a quem você
não deu chance de fugir...
e que agora sim
pode nos ouvir.
a que sacrificou-se por mim.
e por isso,
se tudo mesmo existir,
deve estar à direita.
ela, que amou à mim e a Vida
até o fim,
era a que tinha a nobreza no
nome
e a simplicidade nos gestos.
a quem eu afortunadamente
chamava Bibi