DESABAFO

Choro, e nem percebo que ando pelas ruas,

pessoas me olham, as lágrimas escorrem

e rolam pelo vento, soltas, livres, como um

desabafo contido, ao mesmo tempo em que

o meu pranto é uma afronta ao meu silêncio.

Afronta sim, porque não é isso que eu quero

e nem desejo, meu choro ninguém escuta, ninguém vê,

e carrego comigo a minha dor, o meu tormento

sofrimento rasgado por dentro, contido por fora,

como algo proibido, a cada minuto e momento.

Assim, esse nó se desata e me castigo,

pois então não consigo controlar e me persigo

para que não vejam, que não percebam essa

dor, esse vazio, buraco negro de minha alma

de meu espírito, espaço desconhecido.

Pergunto-me, e respostas não tenho, ninguém me dá,

ninguém me diz, e perdida continuo, podada

pela vida, ferida, não entendo e ninguém me explica

por que a dor, o naufrágio, a ira, e engulo então o

choro que pelas ruas ninguém percebeu e todos viram.

Assim, é mais fácil o desabafo, ninguém pergunta

por quê, e então eu choro e grito e ando apressada

para fugir de mim mesma, de meus fantasmas,

mudo a roupa, lavo a cara, preparo o sorriso alegre,

despedaçada por dentro, e assim recomeço, rindo

e sorrindo, e ninguém vê o outro lado, que escondo,

dolorido, profundo, desconhecido e proibido.

angela soeiro
Enviado por angela soeiro em 15/06/2006
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