DESABAFO
Choro, e nem percebo que ando pelas ruas,
pessoas me olham, as lágrimas escorrem
e rolam pelo vento, soltas, livres, como um
desabafo contido, ao mesmo tempo em que
o meu pranto é uma afronta ao meu silêncio.
Afronta sim, porque não é isso que eu quero
e nem desejo, meu choro ninguém escuta, ninguém vê,
e carrego comigo a minha dor, o meu tormento
sofrimento rasgado por dentro, contido por fora,
como algo proibido, a cada minuto e momento.
Assim, esse nó se desata e me castigo,
pois então não consigo controlar e me persigo
para que não vejam, que não percebam essa
dor, esse vazio, buraco negro de minha alma
de meu espírito, espaço desconhecido.
Pergunto-me, e respostas não tenho, ninguém me dá,
ninguém me diz, e perdida continuo, podada
pela vida, ferida, não entendo e ninguém me explica
por que a dor, o naufrágio, a ira, e engulo então o
choro que pelas ruas ninguém percebeu e todos viram.
Assim, é mais fácil o desabafo, ninguém pergunta
por quê, e então eu choro e grito e ando apressada
para fugir de mim mesma, de meus fantasmas,
mudo a roupa, lavo a cara, preparo o sorriso alegre,
despedaçada por dentro, e assim recomeço, rindo
e sorrindo, e ninguém vê o outro lado, que escondo,
dolorido, profundo, desconhecido e proibido.