VELHO

A neve de teus cabelos, meu velho

Mostram o efeito que a geada dos anos causou em ti

Hoje esquecido no fundo de um asilo

És o próprio arquivo da vida dos homens

E, justamente por isso te negam guarida

Vêem em teu semblante enrugado o sulco da idade avançada

Um fardo pesado a ser carregado

Sobre os ombros dos novos que te renegam

Em um canto relembra estórias

Experiências vividas e sofridas

Desvalido e decrépito

Babando esc1erosado, falando frases sem nexo

Servindo de riso para muitos

Pedindo esmolas e restos

Teus filhos, teus parentes, são teus juizes

Não te querem!

E quem não aceita, esquece na memória

a raiz da qual somos frutos

Mas, não adianta

Vais morrer esquecido em um beco qualquer

Maltrapilho e com frio

Isto se não tiveres o luxo de padecer

nos corredores de espera da previdência

Depois, ao partir desta para a melhor

Óbvio, uma vida assim nem cachorro a quererá

No teu leito definitivo onde descansarás em paz

Sentirás todo cinismo e hipocrisia

Que teus algozes demonstrarão

através de lágrimas artificiais e de alívio

Sorrias, agora estás vivendo!

JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES
Enviado por JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES em 25/06/2006
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