Moeda de duas faces

Nunca espere de outrem, amparo prá tuas tristezas, refrigério prá suas dores,

Nem compreensão prá tuas mágoas, qualquer respeito por seus mais caros valores.

São coisas nossas, internas; não temos que dividir nossos mais íntimos temores.

O escárnio é a paga do Hoje: quem Ontem recebeu carinho, quita a fatura em horrores.

Liberdade é conceito abstruso, debalde tentar explicar, quem tem o viver confuso, ouvidos moucos fará.

Abdicar de regras tão claras, faz nosso viver complicado; só resta depois reclamar, nos considerar azarados por escolhas mal feitas de outrora.

Cumpre-nos criar novos rumos, recuperar o aprumo, manter a harmonia intacta: veneno pouco não mata – nada vem antes da hora.

Compreensão é tão rara, difícil se ver praticar: nunca nos vemos no Outro; o medo da revelação impede um mais límpido enxergar.

Poetas são entes insanos, desprovidos de razoabilidade: querem amor-parceria, não entendem que é Utopia, este insensato querer

Em mundo tão desumano, pejado de hipocrisia, de laissez-faire, laissez-aller - distante da abnegação, ancorado na mais-valia.

Urgente se faz necessário tornarmo-nos mais compassivos, pois quando faltam argumentos ficamos mais agressivos, a língua mais se afia,

Dizemos impensadamente palavras que não queremos, a ferir impulsivamente quem antes dizíamos querer...

...não há ganhador nesse jogo – todos só têm a perder.

Usei as expressões francesas acima para exemplificar o materialismo, pedra-chave do capitalismo selvagem praticado no pelas grandes nações européias e seu sucedâneo nas Américas, existente nas relações interpessoais. Falar de amor tornou-se ultrapassado, mesmo incompreensível para a imensa maioria das pessoas. Alguns acrescentam como um riso sardônico nos lábios: “amor: isso é coisa de poetas”. Ainda bem que alguns sobreviventes ainda cultivam este lótus no meio deste farto brejo de laissez-faire.

* A frase completa: “laissez-faire, laissez-aller, laissez-passer", que significa literalmente "deixai fazer, deixai ir, deixar passar".

Vale do Paraíba, madrugada da primeira Terça-Feira de Novembro de 2009

João Bosco (Aprendiz de poeta)

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 03/11/2009
Código do texto: T1901992
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