Avalanche de angústia

Tento explicar, debalde intento, não consigo: esta minha avassaladora angústia que me algema a alma e oprime o peito.

Perguntam-me, não sei responder o que tenho: em que tanto penso, e que me deixa assim tão introspectivo,

A enclausurar-me em mim mesmo, transitando errante por mundos ermos, desnorteado, interrogativo.

O sono não chega, foge de mim, como coelho assustado: levanto estremunhado, vou escrever – não em jeito!

Poderia perfeitamente ser um homem previsível, fazer aquilo que de mim se espera; paradoxalmente, isto para mim, é impossível:

Seria condenar-me a uma morte lenta, sem glória. Aceitar como normal o marasmo, essa canga de asno– é vida mais que mofada.

Contudo, o inútil espernear, o simplesmente falar, ao Nada conduz, simplesmente oculta da Luz, a inércia, em peneira guardada.

Segrega a real monotonia em que se atira a grande maioria daquelas almas sem tino, sempre a se escorarem na confortável trave do inevitável.

Sinto a lucidez num constante escoar; ampulheta de sinapses como fogos a espoucar, imagens em minha cabeça, antigos filmes revejo.

Deja vus me vem comumente, sucedem-se em avalanche, afogando gelidamente minh’alma em intocados lençóis de insights inesperados,

A jogar-me em assustadoras ondas de sofrida reflexão, a questionar-me por rotas escolhidas, por metas não atingidas, a sentir-me do Universo divorciado.

Então, qual celerado na fímbria da madrugada, encho-me de uma inspiração rebelada, a deixar, a título de epitáfio, nesta poesia arrevesada, o meu mais íntimo desejo...

...quando me chegar a morte não esperada, traga dos lábios de minha amada, o não olvidado sabor de seu ultimo beijo.

Para determinadas questões não há respostas imediatas. Há necessidade de que reflitamos a respeito das mesmas para que cheguemos a alguma conclusão plausível, que nos deixe o espírito menos inquieto. Não é possível para alguém que vê o mundo com os olhos da alma posicionar-se da mesma maneira que uma outra pessoa que o faz de maneira totalmente oposta. O olhar do poeta alcança vibrações quase imperceptíveis para a maioria das pessoas, o que torna esses seres nada razoáveis, a maior parte do tempo, completamente dissociados do mundo que os cerca.

Vale do Paraíba, madrugada do primeiro Domingo de Outubro de 2009

João Bosco (aprendiz de poeta)

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 03/11/2009
Código do texto: T1901997
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