Cicatrizes da Vida
 
 
Travessas de um destino,
margens solitárias de uma existência.
E o cérebro arde em ideias fulminantes,
os pulmões buscam o ar escasso.
 
As labaredas emocionais das frustrações.
E no seu crepitar, devorar a ingenuidade.
Sentimentos inocentes e fio do punhal.
Oásis e deserto digladiam-se, furiosos.
 
Vazio, vago, oco espaço do coração.
Ali se ama oculto quem merece amor,
pois sentir algo é tornar-se vulnerável.
E entre o bendito e o maldito, o último sobrevive.
 
Dicotomias, força em sentidos diversos.
Redesenha-se a própria face, oculta-se.
São olhos distantes, são lábios lacrados,
surgindo uma figura de semblante bruto.
 
Fazer das próprias feições uma armadura,
escudo contra o ataque inevitável.
De tão compacto, de tão duro, de tão inflexível,
sente que vai quebrar, vai romper.
 
Pedaços, cacos de si, num jogo dialético,
numa fúria humana, numa ira divina,
num trovejar da voz que se espalha,
para depois afogar-se na própria angústia.
 
Para depois definhar em dores reumáticas.
Nem lágrimas, nem socos, nem murros...
Apenas o nó que vai na garganta.
E a boca a sorver o copo de fel de cada dia.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 21/11/2009
Código do texto: T1936928
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