CALO!
 
 
Calo-me ante seu olhar
não encaro, para não ver
o sagaz silêncio a me fitar,
nada há para se dizer...
 
Calo então todo o meu sentir...
Com a alma quase já não falo
pois não consegue me impedir
nas infindas horas em que me calo...
 
Calo também a estesia dos sonhos,
o sono é agitado, sem fantasias.
Ao corpo nada mais proponho
vivo em afasia...
 
Calo a pele, enxugo o desejo...
Encarcero todas as lembranças,
insípido é o gosto do beijo
num tempo sem esperanças.
 
Já atravessei tantas pontes,
perdi-me no labirinto da solidão
onde não existem luzes ou horizontes.
 
E perante a mente que vaga em agonia
calo o alvedrio do verso
e rompo de vez com a poesia...

 
23/12/2009