Renúncia _ (Por quem tua mãe chorava?)

Três tiros...

E o silêncio era de morte,

um anjo cantou meu nome,

enquanto minha mãe chorava.

Oh, dor cruel, dor insolúvel!

Quem consola minha mãe?

Levem-na, antes que meu corpo apodreça,

diante de seus olhos tão cansados.

Eu recusei os seus conselhos.

Eu zombei de suas preces.

E agora, como posso!?

Como enxugar as lágrimas em sua face?

Troquei o seu sorriso e seus carinhos,

por um punhado de maconha;

joguei no esgoto o seu orgulho,

e sua esperança, e sua revolta...

_ Por Deus! Levem-na daqui.

Ela sofreu meus desencantos,

chorou meus desesperos

e sufocou na alma o meu desprezo.

Não suporto sua imagem de sofrimento.

Não admito este compadecimento voluntário

e ignóbil de terceiros.

_ Pobre mãe, chora agora teu filho nóia.

_ Por Deus! Levem-na daqui.

Pois, só agora reconheço:

A ruína na qual sucumbi, não foi a do castelo,

que ela sonhou para mim...

Eu pereci nas drogas que consumi,

renunciei meus sonhos,

isolei meus estimados amigos,

abandonei a escola e reverenciei o vício.

Três tiros...

E o silêncio era de morte...

Oh, dor cruel, dor insolúvel!

Perdoa mãe!

Agora, levem-na daqui.

Logo chegaram os legistas (se chegarem);

pois não quero que ela assista,

neste circo de morte, meu último ato,

onde vermes e insetos também serão fotografados.

Sandro Colibri
Enviado por Sandro Colibri em 29/12/2009
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