Na esperança dos desgraçados...

Que esperar-se da vida, quando o amor é morto,

quando a paixão é assassinada...?

Quando a latente agonia se mostra à tona

e o peito é covardemente alvo de estilhaços?

Que abraços podem modificar o quadro triste,

deixando transparecer só o que existe?

A mágoa do carinho mutilado...

Essa é a esperança dos desgraçados:

mágoas e tristezas lavadas pela enchente,

nada permitindo que se salve, que se guarde,

que se limpe, que se mostre o que se sente...

É a face de um ano que se mostra velho no nascedouro.

São lamentos que serão logo esquecidos...

Vítimas enterradas, encostas assassinas...

Casas levadas como entulho, famílias desabrigadas...

E ainda se diz que o ano é feliz, onde está o seu retrato?

Em qual parede despedaçada, em qual fogão

pode abrasar-se a chama da paixão?

Que sina triste de quem na madrugada,

esperando o nascer do dia, ter a luz apagada,

a cama levada pelas águas, os filhos no IML,

para serem reconhecidos... a dor está na pele

destes desgraçados que tudo perderam,

que não mais puderam ter os seus junto a si...

Esperança triste dos desesperançados,

agoniados, torturados, mutilados, soterrados...

No feliz 2010, bem quando o ano velho morria

e o ano novo trazia tanta esperança,

tanta fartura nas mesas de tantos

e tanto tortura na vida de quantos...

Que mundo egoísta, quase artista,

mas, apenas, símbolo da desesperança,

da descrença, da amargura, da loucura,

de uma Angra que foi marca de tristeza,

bem quando o ano velho morria e a ano novo nascia,

ofertando promessa de amor e paz,

que agora em cova rasa jaz!

(às 18:25 do dia 05/01/10)

" Desgraçados aqui são os que sofreram tamanha desgraça".

Mariza Monica
Enviado por Mariza Monica em 05/01/2010
Reeditado em 06/01/2010
Código do texto: T2012942
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