DEIXA DEUS ENTRAR

Deixa Deus entrar pela soleira da porta vazia.

Onde havia alegria, um pedaço de pão e uma cama para descansar. Onde havia um cercado e no alto a igrejinha aonde Deus a tardezinha ia visitar, hoje paira sobre ferros retorcidos o corpo de tantos sem a Deus achar. Deixa Deus entrar.

Deixa Deus entrar nos escombros da sala escura, na tristeza profunda, na falta de amigos, da ausência das horas. Onde à mãe embala no colo a fome do filho que dorme, onde a dor é mais intensa e o desespero é maior que o choro e o consolo tarda chegar.

Deixa Deus entrar.

Na ausência dos vivos e na saudade dos ausentes, no olhar do descontente, na mão que não sustenta, no abraço que não afaga, na sede que não cessa, nos dias que não passam. Nas flores na calçada, do chinelo perdido sem um pé para calçar. Deixa Deus entrar.

No coração dos desesperados, na solidão dos aflitos, no socorro que demora, no analgésico que não alivia a dor da alma. Na mãe que salvara com o corpo a vida do filho, no filho que chora sob o corpo da mãe que não lhe pode escutar.

Por misericórdia, deixem Deus entrar.

Nos hospitais, no leito dos mutilados, entristecidos e desabrigados, na água para matar a sede, na vida dos que caminham sem ter lugar. Sob a poeira das edificações, nos desamparados corações. Deixem Deus entrar.

Nas covas rasas dos desfalecidos, dos que suplicam por atenção, na família que perdeu o teto, no irmão que perdeu o irmão. Deixa Deus entrar nessa tristeza, deixa Deus entrar no coração.

Deixa Deus entrar na tua casa e no pouco tens para ofertar. No teu ombro largo para dar carinho, na mão macia para afagar, no teu jeito sincero de dar abrigo, no teu gesto de se doar. No pouco daquilo que sobra, há sempre uma grande obra, que Deus tem para dar.

Pela porta, onde a paz ousou sair, Deus faz pelo homem a paz voltar, deixa Deus mostrar o que há em ti.

Não feche a porta, deixe Deus entrar.

Pelo Haiti.

Joel Thrinidad
Enviado por Joel Thrinidad em 23/01/2010
Código do texto: T2046580
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