Funeral das árvores

Um estalo seco ecoa na mata

Árvore rara se transforma em madeira barata

Caminhões a seguirem um funeral

Convencidos de que o que fazem é natural

Subtrair da terra a seiva da vida

Espalhar esterilidade e alargar ferida

Ficam sem tetos os tristes passarinhos

Junto com as árvores vão os preciosos ninhos

Desequilibra a evolução e sustentação do sistema

Abre-se a dolorosa expectativa do terrível dilema

Desmatar para o progresso avançar

Suicidar-se para nenhuma indústria parar

Minha voz é fraca e não é ouvida

Voz de Sem Poder é sempre suprimida

Vozes que querem alertar

Vozes que querem salvar

O Poder finge que ouve e disfarça

E prossegue o funeral sem a menor graça

Vários estalos ecoam nas matas

Madeiras, toras de lenhas e estacas

Verde transformando-se em cemitério ambulante

Concreto ganhando forças e tornando-se gigante

Vozes gritando em desespero sem serem ouvidas

Vozes roucas protestando promessas esquecidas