Vísceras de um dia nublado
Soneto I
Outrora eu vira meu rosto
Com fios de lágrimas abaixo dos olhos...
Era algo que se processava em meus refolhos,
E estancava num suspiro roto.
Catapultas arremessavam em mim,
Mágoas que antes me eram estranhas,
É o fardo de amar que rói as entranhas...
As badaladas roucas no meu fim.
O amor às vezes estraçalha
O coração imaturo que falha,
Ao se equivocar na sua contemplação.
Mas essa dor às vezes é viável,
Pois se o homem que se tornar amável,
Deve se amar na sua constituição.
Soneto II
Meu patético agregado orgânico
Declina às cavidades profundas,
Das minhas tristezas surdas
Do meu plástico sorriso mecânico.
Mas poderia eu sintetizar
A mesma alegria de uma criança?
Que não compreende nem a vingança?
Conhecendo tão além do pesar?!
Creio que a felicidade alheia é real,
Que meu âmago pode ser frio como metal,
E que a tristeza é mais sábia que a alegria.
A certeza não virá à minha porta,
Enquanto minha pureza não for morta
Por uma trágica traição fria...