A UMA AMIGA QUE EU JAMAIS QUIS RIVAL

Dói-me em mim

que ames assim

ao homem do meu amor.

Dói-me que ames, como eu

a este homem

que esconde de todos

o próprio coração

ainda que ainda

me ame a mim,

à revelia de si mesmo

como quem recusa ver

o próprio rosto no espelho.

Dói-me, em mim,

a tua dor sem saída

na minha dor sem saída

de saber

que ele me permanece também

nas ruas sem rumo de nós

nas ruas sem rumo

de todos nós,

que rumos não há mais, amiga,

como já não há Minas para José,

no poema de Drummond.

Zuleika dos Reis, na tarde de 28 de fevereiro de 2010.