CORAÇÃO DESPEDAÇADO

Tempo que passou onipotente,
Deixou muitas cicatrizes,
No corpo lento - cansado,
Alimentado pelas raízes,
Lembranças sonoras,
De um longínquo passado,
Dias sem deslizes,
E a angústia não era senhora,
Absoluta do ser,
Agora  - o olhar,
Com dor - sem hora,
Perde-se na estrada,
Nas marcas da caminhada,
Sente os danos latentes,
Da fotografia,
Coração despedaçado,
Mãos erguidas,
Ao céu nublado,
Lágrima presente,
Na voz rouca,
Com resíduos de ternura,
Um clamor de louca;
- Já sofri o bastante,
Cinja de alegria,
A minha amargura,
O que me resta de vida,
Cura-me desse instante,
Incolor - inconstante,
Do medo de envelhecer,
De ter que me recolher,
Sozinha à arca exaurida,
Vazia a me esperar,
E fechá-la bem devagar,
Sem bater.