Naufrágio

Tudo afundando

Lentamente

Num mar de enigmas e silêncios

E sumindo, perdendo a forma

Contornando sinuosas curvas

Da imaginação

Tudo afundando

Em lama, em água

Infiltrando-se em sólidos

Insólitos

Pérfuros-contundentes

Cortando, molhando

Dispersando toda a essência

No mar de inquietude e

angústia

Tudo afundando de forma vertical e

Adernada

Solene e

progressivamente apagando-se

Do limiar do horizonte

O risco do arco-íris,

a promessa do cais aberto

Os punhos em riste

E, a palavra imaculada na garganta

Encravada na madrugada

Só a luz permanecera ali

A pairar sobre o mar,

soberana perante a lua e as vagas

Tudo afundando em sangue

Em vermelho pulsante

E coagulando

Escurecendo

Às vistas perdendo imagens

Como lágrimas

As vistas perdendo imagens

Num branco absurdo e opaco

No absurdo da luz no fim das trevas.

Tudo afundando

Em solidão e se perdendo em

retilíneas vertentes

E, quando as retas chegam ao infinito

Descobrimos com saudades

da geografia,

da etnia,

da melodia

encantada do naufrágio

lirismo imaginário das sereias,

da cor improvável das areias

da realidade encoberta de máscaras

de iniqüidade.

Tudo afundando no raso da tarde

Num copo d’água

A sede, o rancor e o porre.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 06/03/2010
Código do texto: T2122812
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