Entressafra

Enquanto persistir este vazio

o rio que corta minha existência

estará represado

pesado de palavras não ditas.

Malditas as distâncias que me afligem

e exigem que a poesia fique à margem

e a folhagem de minha mata seque

e me neguem a capacidade da escrita.

Meu campo há muito sem o arado,

empedrado e estéril se apresenta;

a tormenta se despeja impiedosa

e a semente se afoga em meio à lama.

A chama que outrora em mim ardia

é poesia incinerada, é cinza fria.

Meus dias arrastam-se sem alento

e meu pensamento é vento só.

O pó das horas seca minha tinta

há quem sinta o que um dia senti.

Me recolhi em quietude improdutiva

aguardando que alguém escreva o que não escrevi.

11/08/2006