Tristeza Infinita

Hoje não tenho poesia a dizer

Sêca estou como árvore ao sol

Como livro antigo que não se quer ler

Como navio ao mar sem ter farol

Hoje perdi-me em tantas lágrimas

Que sequer tive estrelas o bastante a comparar

Hoje revolvi antigas miragens

Que a tristeza cobriu-me como manto a esquentar

Hoje descobri, ainda que tardiamente

Que a ferida não cicatrizou

E o medo se apossa de maneira tão crente

Que a dor aqui no peito se petrificou

A palavra, que por vezes com amor me embala

Hoje foi espada, transpassando a alma

A sombra do que fui, ainda jaz na sala

No canto da mente que não encontra mais calma

Hoje dei a face a bater

E a esperança (sensata), não veio

Ainda prefiro a desilusão a discorrer

Pois esta não mente, fez pôrto em meu seio

Corram, rios de sal, corram pela face!

Deixem sulcos, que nem as rugas disfarcem

Em silencio hoje passei o dia

Tentando suportar o que me coube, com maestria

Hoje não tenho poesia a dizer

O chôro me encolheu

O coração se perdeu.

Hoje, meu personagem, sou eu.