Grão Marajá

Que tens contra meu solitário sonhar, Grão Marajá? Por acaso te assusta dos meus sonhos a doçura?

Por que me persegues, se a ninguém, além de mim mesmo, eu firo nestes meus inofensivos devaneios?

Poupa-me então, Sua Majestade, de sentença tão dura ditada por vossa amargura,

E deixa-me aqui, sozinho, perdido em meus sonhos, desta tua feia realidade alheio.

Aqui, neste reino de sonhos, escapo de tuas insensatas sentenças, Grão Marajá.

Quebrei de há muito tuas grossas algemas, forjadas com as asas abatidas de sonhadores cansados.

Vou te contar um segredo, Grão Marajá. De ti perdi o meu medo no dia em que te vi ao espelho, mirando-se aterrorizado.

Era uma noite de chuva, e a Morte, essa tua eterna viúva, rondava-te entre os raios coruscantes e os bravios trovões a ribombar.

De que te vale, nessa hora, o dourado de teus anéis enfeitando os teus encarquilhados dedos, Grão Marajá?

Se por entre eles viste escorrer, a despeito de vosso poder, a felicidade de um amor – um amor que nunca soubeste ter?

Dê-me vênia, Grão Marajá. Mas, se me for sentenciado, em vosso reino aprisionado ser,

Dir-te-ei então, olhando-vos de frente, Grão Marajá: Não me é possível viver em um lugar aonde é proibido sonhar.

Em nossos sonhos permitimo-nos libertar a nossa alma das prisões a que a submetemos em nosso viver de formigas pensantes. Construímos, através da poesia, um mundo em que tornamos possível as nossas mais recônditas utopias.

Vale do Paraíba, noite da segunda Quarta-Feira de Março de 2009

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 11/05/2010
Código do texto: T2250486
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.