O BANQUETE DO CARCARÁ

Gente se movimenta,

De manhã, lá no mato.

Trama e muito cálculo,

Prá nada sair errado...!

Depois, de um fósforo,

A centelha se espalha.

Labaredas de fazer medo,

Crepitar, ouve-se ao relento.

Depois, fumaça e brasa,

Silêncio de doer o coração.

Tudo destruído,

Era uma vez, uma Mata.

Cinzas e destruição,

Foi o que sobrou.

Corpos carbonizados,

Uma grande desolação.

Obra macabra:

Ratos, cobras, seriema esperta,

Ou vagaroso jabuti,

Morreram todos.

Porém, a vida teima em continuar,

Pássaros em revoada surgem no ar.

Vem, à carne da bicharada, aproveitar,

Na natureza, nada pode se desperdiçar.

Os carcarás vêm providenciar,

À limpeza da criação.

Das vítimas indefesas

De homens sem coração.

Ritual impressionante:

Bicos vermelhos e beligerantes,

Disputam os restos mortais.

Num espetáculo horripilante.

Perto dali, num carro monumental,

Alguém pensa no canavial:

Etanol, esse combustível infernal,

Que mata a Mata que restou do Brasil central!

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 18/07/2010
Reeditado em 19/03/2012
Código do texto: T2385796
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