Chamada perdida

Ouço vozes esparsas na noite, como vadias estrelas silentes

Versos de poetas insones, sem rimas, barcos largados no rio

Tal qual faróis apagados, boêmios; navalhas cegas, sem fio

Espaços vazios, sem eco, geram precipícios letais, atraentes

São bodas de sangue nostálgicas; nossas núpcias indefinidas, adiadas

Teus lábios cheios de promessas tão doces, agruras desinventadas;

Meus olhos inundados de lágrimas, um mar de expectativas esvaziadas

Refletem medalhas reversas, sem missa, lápides de soturnas tumbas lacradas.

As cidades em festas insanas; e tu, donzela feliz, sobranceira

Um brilho no olhar, desvairado, teus passos marcados na areia

Hirto sorriso de plástico, a entoar canções de redivivas sereias

Restam-me papéis de sonhos na chuva, réstia luzindo na cumieira

Punhais cravados em meu peito, me castiga esta saudade revel, necrosada

Tuas chamadas sempre tardias, insossas, indultos de exéquias anunciadas

Um sombrio buquê de flores, Um naipe de clarinetas rasgando a madrugada

Apenas tédio é o que sinto: soma de eu sem você, uma equação mal elaborada.

Nenhuma palavra pode ser consoladora quando nos sentimos sós, irremediavelmente sozinhos. Apenas a presença do Ser que amamos é capaz de suprir o nosso imenso Vazio.

O resto tem apenas o mesmo valor do silêncio.

Vale do Paraíba, noite da penúltima Quarta-Feira de Dezembro de 2009

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 24/07/2010
Reeditado em 25/11/2019
Código do texto: T2396712
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