Caminhos tortos

Minha alma em mim não se cabe torpe.
Meus pés perambulam trincheiras
Revéis à minha condição de ser pensante,
Anunciando o dia da última fala,
Último som,
Último eu.
A voz que afagava meu coração,
Inebriava-me o corpo,
A tua voz, em silêncio dilacerante,
Rompe minha racionalidade,
Qual estoque penetra meu peito.
Estropiada, mofina mulher me torno.

Cala em mim uma luz.
Estrondo, estampido...
E em minha cabeça uma dor aguda,
Feroz, mortal.
Morro eu,
Morres tu,
Morremos nós, de sonhos e de sons.
Já não nos fazemos alegres.

Parti sem te dar adeus
Parti sem ver o rosto teu
Parti deixando para trás parte do meu Eu
Parti rompendo em lágrimas.
Partida ora estou
A lugar algum cheguei...
Eis me hoje, parte morta-viva,
Sem nenhum lampejo ou despojo,
Posta ao canto dos castigos,
Aos sons que tintinam na lembrança,
Aos caminhos entrincheirados
Que minhas próprias mãos cavaram.
Poeira, ventania, estrada,
Trilhas que jamais percorrerei,
Banhos que jamais tomarei,
Cicatrizes que nunca mais verei.

Não há lápide!
Se houvera, assim teria:
Aqui jaz,
Alma Suja e Informe,
Que não fecunda nem dorme...