A ORDEM

Quando a primeira flauta voa

e as cordas do violão sustêm a primeira lágrima

que não deverá cair, mas ficar recolhida

ansiando pela pétala que há de vir

em forma de acordes e indecifrável lirismo;

quando o coração não mais espera

e já antevê o grito mouco que irá perpetuar

e transformar o pequeno mundo do ser

em guerra no momento oásis a lhe saciar;

quando a conspiração da sensibilidade

prepara o encanto e rompe o fétido temor da vida

e o encerramento brusco, tosco da busca infinita

por desejos e motivos, o olhar descansa

na pausa mediante que ao cansaço intimida;

quando tudo é o que chamamos completo,

a ordem vem reta, sem devaneios,

sem sorriso, sem pano úmido que reconforte:

“ Vá para a última das cavernas,

da porta mais estreita,

das sombras mais nítidas,

vá e leve consigo sua sorte!

Vá para o recuo além fio da vida

com suas maravilhas aleijãs

suas vontades inexplicáveis de ouvir

suas tendências de malícias

suas brisas que não se necessitam nunca,

suas inúteis manhãs.

Vá e leve você com você mesmo

e de lá nunca se dissemine nem aflore;

vá e fique com seu pequeno e retrátil desafio

em se expor à poesia seu riso incontido.

Vá ao encontro de seu mistério

mas sempre num recluso fone de ouvido!”

2006

Sítio de Poesia

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ALFREDO ROSSETTI
Enviado por ALFREDO ROSSETTI em 27/09/2006
Código do texto: T250500