A ORDEM
Quando a primeira flauta voa
e as cordas do violão sustêm a primeira lágrima
que não deverá cair, mas ficar recolhida
ansiando pela pétala que há de vir
em forma de acordes e indecifrável lirismo;
quando o coração não mais espera
e já antevê o grito mouco que irá perpetuar
e transformar o pequeno mundo do ser
em guerra no momento oásis a lhe saciar;
quando a conspiração da sensibilidade
prepara o encanto e rompe o fétido temor da vida
e o encerramento brusco, tosco da busca infinita
por desejos e motivos, o olhar descansa
na pausa mediante que ao cansaço intimida;
quando tudo é o que chamamos completo,
a ordem vem reta, sem devaneios,
sem sorriso, sem pano úmido que reconforte:
“ Vá para a última das cavernas,
da porta mais estreita,
das sombras mais nítidas,
vá e leve consigo sua sorte!
Vá para o recuo além fio da vida
com suas maravilhas aleijãs
suas vontades inexplicáveis de ouvir
suas tendências de malícias
suas brisas que não se necessitam nunca,
suas inúteis manhãs.
Vá e leve você com você mesmo
e de lá nunca se dissemine nem aflore;
vá e fique com seu pequeno e retrátil desafio
em se expor à poesia seu riso incontido.
Vá ao encontro de seu mistério
mas sempre num recluso fone de ouvido!”
2006
Sítio de Poesia
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