PASSAGEIRO CLANDESTINO

Armei-me de palavras brutas,
Lancei-as à torto, à direita,
Aliei-me às coisas concretas,
Rompi marcha, fiz-me luta,
Em busca da morada perfeita,
Da felicidade seleta,
Adi-me à inconstante multidão,
Projetei verdes utopias,
Vesti-me de euforia,
Libertei os sentidos,
“Fui todo coração”.
. . .
No abalroamento dos dias,
Feri, fui ferido,
Senti a alma cansada,
Afagada pela solidão,
Calei meus passos na estrada,
Desafinei a canção,
Hoje sou clandestino,
Passageiro do incerto destino,
Convivo com meus receios,
Na superfície cinzelada,
Não creio, nem descreio,
Palmeio filosofias,
Com o olhar entristecido,
Habito na poesia.