HORA DA PARTIDA.

De: Manoel Lúcio de Medeiros.

I

Meu Deus, cuja íntegra fé,

Que só em ti deposito!

Desvanecida, tumultuada,

Quais ondas do mar!

Perene, mas contrita,

Encontra-se em mim aflita!

Como moribundo me sinto,

Perplexo, conturbado!

II

Se eu pequei contra ti,

Com razão, é meu agonizante estado!

Idílico, porém, tenho andado,

Em retidão, pois me provaste!

Todavia, malevolentemente,

Iníquos me feriram!

Difíceis são meus momentos,

Qual insanável dor,

Os meus tormentos!

III

Senhor, que cuja fé elevo,

Embora ínfima, mas firme!

Detém de mim, insuportável dor,

Minha alma implora!

Se o alívio do sofrer inumano,

For o meu prescrito sepultamento!

Leves-me a mim, sanando vil tormento,

Ao lar do esquecimento!

IV

Vejo a morte que me chega,

Qual aurora que precede ao amanhecer!

Amigos meus já foram, almejo revê-los,

Como será? Estou, a saber!

Dócil vou, qual anjo a te obedecer!

Do relógio, a partida,

Sinto qual fosse à hora de bater,

É meu morrer!

V

Invulnerável, meu corpo se agrega,

A desprezível mortalha!

Porém, meu espírito,

Eu o entrego a Deus!

O destino tem seus traços,

Seus ermos, seus termos, seus plano!

O tempo nasce o tempo corre, passam anos!

A vida vai, a vida finda, acabamos!

Irrevogável separação!

Consolai-vos, não choreis!

Audaz parto, meu adeus!

Deus!

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Malume
Enviado por Malume em 08/10/2006
Código do texto: T259450