MORTE

Detona-me, oh morte!

Sê meu refúgio sereno

Desta minha vida de má sorte

Só rancor e lamento

Toma meu corpo acabado

Destroçado pela angústia fúnebre

Que o tempo desalmado

Reparte de dores e lhe sucumbe

Devora meus anseios

Imprestáveis enquanto em vida

Barrados sempre aos atropelos

Da podridão das armadilhas

Vem morte, sê meu consolo

Abra-me o túmulo florido

De cravos sangrentos chochos

Acaba-te com este martírio

Dilacera meu corpo sem dó

Siga em frente! Esquarteja-o

Faça com que nem reste um resquício de seu pó

Nem em lembranças deixe-o

Destrua delicada meu amor esquecido

Cubra-me com sua treva vicejante

Desejo ser o triste canto enaltecido

Ao templo maldito tremulante

Defunto sou ao pé da árvore seca

O pranto intermitente que desce do sereno

Versos fragmentados de endechas

Sou a bruma que paira o esquecimento

O que a vida me apregoa

O que a vida me ignora

A morte vem e me coroa

Sem que minh’alma apavore

Vivo penando ao suplício

Prostrado ao aborrecimento humano

Lacrimejando o horror de um bravio

Maculado de um sentimento tirano

Vôo à imensidão da noite

Sou corvo solitário escondido

Afugento-me desta vida de açoite

Da morte agora sou amigo

E há mais uma estrofe do meu pranto

Do meu funeral assombrado

Sou feliz com a morte arrancando

Toda tristeza desta minha vida de marginalizado

Zorzan
Enviado por Zorzan em 23/11/2010
Código do texto: T2632858
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