ABORTO

O que faz aí pequenino

Com as mãos a dançar no vento,

Correndo em volta da casa,

Brincando em meu pensamento?

O rostinho sujo de terra,

Os passos ainda inseguros...

Me faz voltar longas datas

O teu avanço futuro.

Lembra os planos que fiz?

Tomar sorvete no parque,

Fazer arte com as canecas,

Pintar seu quarto de azul...

Lembra os carrinhos de lata

Que nós construiríamos juntos?

E a tarde,quantos assuntos

Teríamos pra conversar!

Deixo-te e deixa-me filho meu,

Com minha imaginação febria.

Eu ficarei nesse dia

Com uma lágrima invisível

Que vela no peito sensível

O filho que não nasceu.

Gilberto de Carvalho
Enviado por Gilberto de Carvalho em 28/10/2006
Reeditado em 14/08/2009
Código do texto: T275637
Classificação de conteúdo: seguro