o legado de uma pintura

Teu sorriso é deprimente,

tuas palavras, uma escória,

um olhar morto que vejo em tua mente,

sepultada em vida tua glória.

Material orgânico e frio

assim te sinto, te tenho nojo;

uma visão negra do vazio

anoitecido em todo seu desgosto.

Me és também o cemitério ambulante

e teu silêncio, a enigmática agonia,

insegura dos passos de seu ser rutilante

à espera da putrefação que principia.

Às margens de tua esquálida figura

sinto tua vida, tão amarga e tão escura;

da hemorragia do sorriso de tua pintura,

aprecie-me agora, o legado de tua loucura.

Vitor Barros
Enviado por Vitor Barros em 25/06/2005
Código do texto: T27751