Mergulho

Tenho medo.

Todo o meu redor é consumido pelo escuro —

Negrume semelhante à tintura de meu sangue

Encontrado à amarga ponte do acaso ao absurdo

Em que repousam certos versos, hoje líricos, andantes.

Encontro-me, ao fim da noite, com um lago

(Tenho o frio a desenhar, à minha pele, tom queimado)

Congelados, em clamor, meus velhos ossos

Ao mundo, recém-chegados, autoproclamam-se meu fóssil.

Está tudo pesado.

Minhas costas não agüentam o ardor enregelado

Comparável à maneira nórdica de ser

A se recusar com nosso clima, ter contato.

Meus joelhos não agüentam o rumor do tal viver.

Mergulho minha face neste lago

Afogo-me às mágoas há tempos em naufrágio

A superfície, imaginária, é um licor a estes olhos

Concordantes à mestria da história de meu fóssil.