Aos Finados

Aqui jaz João Leite

Vilão baiano

Trouxe do caz do porto

A ginga nortenha e um olho torto

Deixem flores marinhas

Em sua cova e em algumas vizinhas

João Leite, pescador

Morreu lá

Aqui apenas jaz sua dor

Aqui jaz Maria Pequena

Suicidou-se em Diadema

Era menor, metro e meio

Lindos olhos, fartos seios

Vagava procurando rumo

Entre visões causadas pelo fumo

Maria Pequena suicidou-se

Com pena de si

Matou sua pena, e calou-se

Aqui jaz finado Pira

Não tinha família

Enterrou-se em terra vazia

Da companhia

Da simpatia de pedantes

Estranhos moleques e amantes

No fundo de um quintal

Em pleno matagal

Finado Pira

Morreu matado

Sozinho, anônimo, apagado

Os corpos destas covas cheias

Umidecidas às lágrimas lembradas

Às lágrimas esquecidas

Não sentem o frio que vos esquenta

Nem em sangue seco, circula este candôr

Que vos consola

E o sorriso vivo, pífio, bobo

Não se estampa em suas faces

Apenas letras e inscrições

Aqui jaz o mundo

Foi-se pelos poros

Dos analfabetos das nações

O Intenso
Enviado por O Intenso em 01/11/2006
Código do texto: T279551