Juriti

Na minha terra, no bulir do mato,

A juriti suspira;

E como o arrulo dos gentis amores,

São os meus cantos de secretas dores

No chorar da lira.

De tarde a pomba vem gemer sentida

À beira do caminho;

— Talvez perdida na floresta ingente —

A triste geme nessa voz plangente

Saudades do seu ninho.

Sou como a pomba e como as vozes dela

É triste o meu cantar;

— Flor dos trópicos — cá na Europa fria

Eu definho, chorando noite e dia

Saudades do meu lar.

A juriti suspira sobre as folhas secas

Seu canto de saudade;

Hino de angústia, férvido lamento,

Um poema de amor e sentimento,

Um grito d’orfandade!

Depois... o caçador chega cantando.

À pomba faz o tiro...

A bala acerta e ela cai de bruços,

E a voz lhe morre nos gentis soluços,

No final suspiro.

E como o caçador, a morte em breve

Levar-me-á consigo;

E descuidado, no sorrir da vida,

Irei sozinho, a voz desfalecida,

Dormir no meu jazigo.

E — morta — a pomba nunca mais suspira

À beira do caminho;

E como a juriti, — longe dos lares —

Nunca mais chorarei nos meus cantares

Saudades do meu ninho!

Poeta Dom Casmurro
Enviado por Poeta Dom Casmurro em 17/02/2011
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