AMEI ALGUÉM UM DIA

Como uma bela fragata, de mansinho no seu cais eu aportei.

Lembro-me deste dia com saudades do calor que eu lhe dei,

Ao enredar-te nas minhas brancas velas de uma paixão real,

Qual filho tesouro envolvido num manto, feito amor maternal...

Em nossa ilha de fábulas, exploramos seus maravilhosos campos,

De um jardim imenso e matizado, onde suas flores já nos sorriam,

Subimos a estrada que nos levou a "Fonte dos alegres prantos",

Que saudava a nossa chegada dentro dos vales que se abriam...

Pássaros dos livres ventos, que assoviavam infinitas canções,

Namoravam de longe por entre galhos, nossos quentes beijos,

Esperando a hora do nosso pouso, a unir num só os corações;

Moviam-se macios pelas nuvens, acariciando nossos desejos.

Nós dois livres em corpos nús, minha virgindade eu lhe entreguei.

Na sombra daquela árvore muito antiga, neste dia eu me realizei,

Uma revoada dos grandes pássaros eu via com enorme felicidade,

Agora que entre sonhos, acabara de viver um amor de verdade...

O tempo passou e como se fosse apenas ter vivido aquele dia,

E antes que eu me tornasse de menina, a mulher muito amada,

Nada me fazia esquecer o teu corpo quente que em mim ardia,

Onde muitas vezes na árvore nos encontramos a ver a revoada.

Mas o destino fez tudo se transformar em uma lembrança sem fim,

Sabendo que lá dentro de mim eu amei alguém um dia, de verdade,

Foi tão cruel que do céu mandou um presságio em forma de serafim,

Este, como um manto negro cobriu-me, o que foi luz desta realidade...

Você..., já quase adulto e de uniforme branco como a vela da fragata,

Está a se despedir da árvore, dos pássaros, do jardim, da minha vida;

O amor que nasceu de nós é esse adeus que está próximo e me mata,

Da nossa ilha de fantasias irá sobrar somente a revoada muito ferida...

Meu tesouro descoberto foi levado pelo vento a mares tão distantes,

Não sei se um dia voltará para este mesmo porto e que agora sou eu,

Embarcou e sumiu na fragata que eu era, ao unirmos como amantes,

Fiquei sozinha entre minhas dores, a esperança de mim desapareceu.

Muito tempo angustiei antes de eu descobrir a notícia d'uma fatalidade,

Nunca mais verei meu marinheiro, que da fragata esperava-o em terra.

A fonte agora é só tristeza, árvore sem folhas levou a minha felicidade,

Foi embora no revoar dos pássaros, por sua morte na estúpida guerra.

Setedados
Enviado por Setedados em 14/03/2011
Reeditado em 23/11/2011
Código do texto: T2848415
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