Vivendo na Década dos Remorsos
I
Ossos fragmentados
Pensamentos abandonados na calmaria do inverno
Ontem choveu o dia inteiro e mil infortúnios foram plantados
Na horta do desespero interno
II
Lua a sorrir para mim
Com suas vestes de algodão
Não deveria ser assim
Vejo o sol despencando sobre a sombra da ilusão
III
Fluido negro em meus olhos a escorrer
Maças podres no pomar
Corpos flagelados sem crer
Que tudo ainda poderia piorar
IV
Para onde os pássaros negros vão?
Uma voz responde: “Para o teu funeral”
Apodreceu de mau o meu coração!!!
Queria ser cremado, mas enterrado não farei mal
V
Os adultos choram de alegria
E as crianças de tristeza
Os velhos vivem da nostalgia
Eu vivo da incerteza
VI
Minha alma não é deste século frio
Pulmão sem pulsar, coração sem respirar
E apesar de todo esse vazio
As correntes fizeram meu âmago se acostumar
VII
Podes ter o meu corpo embriagado
Mas não terás o meu prazer
Posso ter eu o meu orgulho afogado
És a navalha enferrujada que oxida também o meu ser
VIII
Cala esta boca vida!
Minha carta de suicídio já foi feita
Ela já foi até lida
A concordância verbal estava perfeita
IX
Morte...És mais rápida que a calefação
Sofrimento...És mais astuto que uma águia
Dor...Tu me trazes emoção
Traição...Tu tens unhas de harpia
X
Nascendo de forma fictícia e com pecado
Crescendo sem carinho
Mesmo reproduzindo-se com um ser amado
Com 46 cromossomos se tem mais um espinho