TANTOS EUS...
TANTOS EUS
Sergio Pantoja Mendes
Tenho tantos eus dentro de mim,
que sou incapaz de reconhecer a todos...
Todos sonhadores e todos fugidios,
me levam pra onde quero e não quero
e me mudam o destino,
de alucinado indivíduo multidão...
A chuva cái fria e fina,
molhando calçadas e gramados verdes,
que se lavam no rigoroso inverno do sul...
E depois da chuva o frio mais intenso,
cortando qual bisturí,
cada coração de mim...
Para onde iremos eu-nós?
Quando regressaremos da nossa insanidade
e poderemos correr de novo, nas areias
das praias banhadas de sol;
livres do inverno interior?...
Mas eis que nesta nossa realidade,
este frio invernal, nunca terá fim...
As geleiras sempre estarão lá,
Guardadas dentro de cada um de nós-eu;
gélidas... espessas... perenes...
E morrerá cada noite e nascerá cada dia,
mas nossa loucura restará então acesa
e não permitirá nunca,
que nenhum de eu-nós,
possa provar o sabor, da solidão...